Prazo para inscrição no CAR é prorrogado
O Ministério do Meio Ambiente publicou nesta terça-feira (05/05) a portaria n° 100 que prorroga por um ano o prazo para inscrição no Cadastro Ambiental Rural (CAR). Previsto na Lei n° 12.651, o registro é obrigatório para todos os imóveis rurais e tem como finalidade integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais, compondo base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento.
Já se
passaram três anos desde a entrada em vigor do atual Código Florestal
brasileiro, mas um dos dispositivos considerados indispensáveis para sua
concreta aplicação, o Cadastro Ambiental Rural (CAR), insiste em não se tornar
realidade. Na véspera da data estipulada pelo governo como limite para a
conclusão do CAR, procedimento que deve ser obrigatoriamente cumprido por proprietários
rurais de todo o Brasil, os ministros Izabella Teixeira (Meio Ambiente) e
Patrus Ananias (Desenvolvimento Agrário) se reuniram para anunciar a
prorrogação do prazo de cadastramento por mais um ano, até o dia 5 de maio de
2016.
A decisão
pelo adiamento do prazo atende a inúmeros apelos de setores diversos, passando
por 48 secretarias estaduais ou municipais de Meio Ambiente e Agricultura, pela
Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA), entidade representativa
dos grandes produtores e do agronegócio, e pela Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Agricultura (Contag), que representa a agricultura familiar.
Mas reflete, sobretudo, o próprio fracasso do cadastramento, já que, segundo os
dados apresentados pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), apenas 25% de um
universo de 5,6 milhões de propriedades rurais cumpriu o CAR até o início de
maio. Após um ano de cadastramento aberto, somente 52,8% dos quase 372 milhões
de hectares passíveis de regulamentação no país foram cadastrados.
Uma vez definida
a prorrogação por mais um ano do prazo para a realização do CAR, a preocupação
maior do governo passa a ser acelerar o cadastramento, sobretudo, entre os
pequenos produtores, donos de propriedades com até quatro módulos fiscais (cuja
medida varia de região para região do país). Segundo o Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA), cerca de 90% das propriedades rurais no Brasil
têm essa medida máxima, mas estas representam pouco mais de 10% dos 25% de
cadastros efetuados até o momento: “Vamos avançar mais rapidamente daqui pra
gente”, disse o ministro Patrus Ananias.
Em fevereiro,
a ministra Izabella Teixeira se reuniu com representantes da direção da Contag,
em discussão que teve a necessidade de cumprimento do CAR como principal ponto
de pauta: “Nos comprometemos com o MMA a fazer o CAR acontecer. Agora, mesmo
com mais tempo, a ideia é inserir de vez o CAR na pauta da agricultura
familiar”, diz o presidente da entidade, Alberto Broch.
A disposição
do governo em avançar com o CAR em meio aos agricultores familiares se revelou
também na nomeação, confirmada na semana passada, do ex-presidente do Instituto
Nacional da Colonização e Reforma Agrária (Incra), Carlos Guedes, para a
Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável do MMA. A presença
de Guedes, que tem experiência sobre os meandros burocráticos da relação com os
pequenos produtores rurais e, ainda por cima, bom trânsito político com
organizações como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), promete
dar celeridade ao processo de cadastramento.
O ministro do
Desenvolvimento Agrário afirmou ainda que os assentamentos da reforma agrária
também fazem parte da base de dados do CAR. De um total de 6.996 assentamentos
com unidades agrícolas em todo o país, já estão cadastrados 4.425, no
equivalente a uma área de 28,1 milhões de hectares: “O cadastramento é uma
forma de promover a agricultura familiar e irá beneficiar 722 mil famílias
assentadas”, disse Patrus.
Parcerias
Para acelerar
o CAR e auxiliar os pequenos produtores no preenchimento do cadastro, o governo
contará com parcerias firmadas com órgãos do governo, como a Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Empresa de Assistência Técnica e
Extensão Rural (Emater), além de entidades da sociedade civil. Em abril, na
sede da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável, no Rio de
Janeiro, nove entidades firmaram com o MMA um Termo de Cooperação Técnica para
o planejamento da recuperação, controle e investimento socioambiental nas
pequenas propriedades cadastradas.
No que diz
respeito a parecerias, Izabella Teixeira fez uma crítica aos governadores dos
estados brasileiros: “A baixa adesão ao CAR mostra que possivelmente alguns
estados não estão trabalhando na gestão, do ponto de vista de incluir e
viabilizar o cadastro, porque R$ 400 milhões é muito dinheiro e tem estado que
não tem essa execução orçamentária. Os governadores têm que vir dar conta do
CAR. Aquilo que era responsabilidade do governo federal, nós fizemos”, disse a
ministra, fazendo referência ao montante disponibilizado pelo Fundo Amazônia
para a realização do cadastramento.
Regiões
Os números
mostram que neste último ano a realização do CAR aconteceu de forma muito
desigual entre as regiões do país. De acordo com o balanço divulgado pelo MMA,
o cadastramento avançou muito mais nos estados que fazem parte da Amazônia
Legal. Já nas regiões com mais terras agrícolas, sobretudo da agricultura
familiar, o resultado foi muito aquém do esperado pelo governo.
Na Região
Norte, os melhores desempenhos foram obtidos no Amazonas (com 93,77%da área
cadastrável do estado registrada), Acre (93,67%), Amapá (79,64%) e Pará
(76,51%). Em seguida, aparecem Rondônia (69,24%), Roraima (53,69%)e Tocantins
(22,97%). Na média, a Região Norte teve 69,26% de suas terras já cadastradas.
Também parte
da Amazônia Legal, o estado do Mato Grosso, considerado um dos berços do
agronegócio brasileiro, é o vice-campeão do CAR, com 99,3% de suas terras
registradas, atrás somente de Brasília, única unidade da federação com a ter
completado o cadastramento. Já Goiás teve apenas 28,14%. A média da Região
Centro-Oeste foi de 54,23%.
Símbolo de
que o CAR caminhou mais lentamente nos estados com maior produção em um maior
número de propriedades rurais, o Rio Grande do Sul, com apenas 0,84% de suas
terras cadastradas, teve o pior desempenho nacional. Paraná (22,33%) e Santa
Catarina (34,91%) tiveram desempenho melhor, e a média da Região Sul ficou em
13,7%.
No Sudeste,
que teve média de 27,36%, o estado com mais terras registradas foi o Rio de
Janeiro (43,05%), seguido por São Paulo (31,97%), Minas Gerais (25,09%) e
Espírito Santo (15%). Já na Região Nordeste, a média de terras registradas no
fim de março foi de 15,38%, com destaque para o Maranhão, que também faz parte
da Amazônia Legal, com 52,33%.
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